2 de junho de 2010

POEMAS RECOLHIDOS NUM DIA DE INVERNO



Um belo dia você se pega recitando uns versos e não lembra de quem são, até que... ó, são seus mesmo!


Eu sonharei todas as manhãs
Com novas canções me acordando.

***

Sem Deus não há mistério.

***

Livra-se do livro
e agarra a sorte
morta de esperar.

***

Não rimam minha dor com teu amor.
A dor é minha e o teu amor é livre.
Ela está aqui dentro e ele aí fora.
Minha dor é só minha.
Teu amor é de ninguém.

***

Se quero escrever ela não vem.
Se quero sair ela chega.
A Poesia é assim.
Num quer o que quem escreve deseja.

***

Vivemos na mesma vila
Onde vivem também
Outros vilões e outras heroínas.
A sorte nos sorri da esquina
E quando alcançamos esta
Já não avistamos aquela.

18 de janeiro de 2004

O QUE É A POESIA?

Poesia não carece de interpretação, carece de emoção, de amor, dos dois lados da mensagem. Poesia é falta - de beleza, de vida; poeta é ausência, é solidão, é vazio. A palavra é sempre um excesso do espírito. Por isso o poeta é um delator, porque está sempre flagrando os momentos particulares e denunciando-os no megafone, como um orate, deslumbrado com as manifestações da vida que não consegue integrar.

21 de setembro de 2003

PERDIDO DE AMOR

Mais uma vez me arrumo. Vou sair. Certas noites me sinto perdido, não sei que direção tomar. Na rua da Aline lembro que terminamos há um mês e volto correndo. Passando em frente à casa da Renata ouço o latido do seu cachorrinho de colo que nunca gostou de mim. Sei que não é ali mas ainda não me lembrei do endereço certo da minha namorada. Nisto vejo vindo em minha direção a linda Julliett e vacilo; mas nunca entrei na sua casa. Ficamos apenas. Ela me sorri, e passa. Alice, Amanda, Carol, Polyana, meu Deus!, onde estará o meu amor? Abatido sento-me num banco da Praça 1* de maio e, sem notar nos casais ali, seguro a cabeça entre as mãos lutando com minhas lembranças. E na minha cabeça vêm tantas salas, tantos portões, tantos ex-cunhados e sogros, tantas ruas... Desisto. Levanto a cabeça e olho pro Santo Antônio. Pra Vila. Pro Santa Efigênia. Bela Vista. Será o São José? Desisto e tomo novamente a direção da minha casa. Impossível, enlouqueci. Esqueci até onde moro. Estou andando outra vez sem sentido. Mas um rosto começa a se formar no meu pensamento, sua voz, seus gestos, seu corpo. Minhas mãos deixam o bolso e meu passo torna-se mais firme. Ainda não sei aonde as minhas pernas me levarão mas logo me reconcilio com o caminho, as casas, as pessoas. Sorrio feliz para a Gabriela, Marcela, Mariana e até para a Karine porque já sei meu 'destino', que sorri pra mim quando me aproximo do portão e lhe sorrio de volta, benfazejo. Viviane, divertida, quer saber “que cara é essa”, mas só depois de me abraçar e beijar demoradamente. Então faço as pazes com o mundo, entrego-me nos braços do verdadeiro amor, agradecido por a ter encontrado e muito mais feliz por ter me encontrado também.

12 de maio de 2001

DE COMO NÃO CONHECI PRISCILLA PORTO NUM 21 DE ABRIL

O grande encontro estava marcado. Não pelo acaso, ao contrário: mensagens haviam sido trocadas, e haviam escolhido o 21 de abril, os caminhos de Ouro Preto e a melhor safra de suas palavras. O maior poeta de Itabirito encontraria a maior escritora da região dos inconfidentes em uma de suas crônicas. O que teria dado errado, então? Os comentários do dia seguinte ao encontro que nunca houve reportavam que o grande poeta escorregara numa pedra-sabão logo em sua chegada, tendo quebrado seu orgulho em várias partes, politraumatismo que nenhum hospital conseguiu tratar. Outros disseram ter visto o grande poeta em companhia de outra moça que vestia roupas de época, e que tinha um sorriso e um brilho nos olhos de outros tempos. Outros, mais radicais, dizem ainda hoje que Diego Domingos e Priscilla Porto jamais existiram, não viveram desventuras nem perderam conduções, que jamais amaram ou compraram, que não passam afinal de história dessa gente. Seus poemas e crônicas outros escreveram e quiseram chamar-se Diego e Priscilla -- tão românticos esses nomes do século passado!